Mais uma vez o dia de São Martinho foi dia de festa e confraternização na aldeia.
Foram muitos aqueles que se abeiraram da Associação para participarem no churrasco, seguido de magusto, que se realizou no largo da Fonte Falgueira, em dia bonito e solarengo, embora o vento frio que vinha do Facho, causa-se algum desconforto.
À saída da missa e transportado pelo vento, sentia-se no ar o cheiro da sardinha assada. Era o sinal de aviso para ninguém se atrasar, pois o petisco é bom enquanto quente.
Pessoas de todas as idades foram chegando e graças aos voluntários de serviço, foi pegar e comer.
Primeiro foram as sardinhas, grandes e gordas, a pingar na carola de pão, que nos enchia a palma da mão servindo de prato, ficando para o fim o gosto de o saborear já encharcado com o molho solto do peixe assado.
Pelo meio alternava um copito de tinto dos garrafões que alguns participantes ofereceram e puseram à disposição. De diferentes procedências e gostos, cada um elegeu o da sua preferência e lá ia a miúdo servir-se, que a comida bem puxava...
A carne assada que de seguida se começou a servir, estava uma maravilha... Tenra, suculenta e com um paladar que só pelas nossas bandas se encontra.
Também ela comida em cima do pão, mas desta feita com a ajuda daquele utensílio que qualquer Transmontano que se orgulhe usa, a navalha de bolso. Já outros, como eu, tiveram que se valer do Serrinha, que pacientemente ia traçando a carne aos cibos...
Depois do café e das sobremesas, também elas confecionadas pelas mulheres participantes, a tarde passou-se animada e ao som do improvisado conjunto musical, acabando ao final da tardinha com o tradicional magusto de São Martinho.
Ficou assim passado mais um dia alegre, participativo e solidário entra os habitantes de Castelões.
Era na escola primária que a maioria das crianças aprendiam as primeiras letras da escrita, os primeiros números da matemática, os primeiros traços do desenho e através da geografia, aprendiam os primeiros nomes das serras e dos rios de Portugal.
Em todas as aldeias havia uma escola e Castelões também tem a sua.
Embora fechada por decisão governamental, ela lá continua, forte, bonita e de traça original, mantendo ainda as pedras que de ambas as partes do terreiro serviam para marcar as balizas em frenéticos jogos da bola.
Para a comunidade, ela deveria ser o símbolo do conhecimento e da sabedoria do povo e um orgulho para todos, sejam residentes ou não, por isso ela deveria ser preservada e estimada, evitando o abandono e degradação a que está sujeita.
Foi com esse propósito que surgiu a ideia de dar nova vida à escola através da instalação de um museu etnográfico, no sentido de recolher, preservar e mostrar, tudo o que foi usado pelos nossos antepassados no dia a dia das suas vidas.
A ideia não foi muito bem aceite, questionando-se até a sua utilidade, mas os primeiros passos foram dados junto das autoridades municipais, solicitando a cedência do imóvel à Associação para os fins em vista, sendo diferida a nossa petição.
Depois dos primeiros dias de entusiasmo, em que o espaço foi limpo e as árvoresaparadas, o assunto esmoreceu sem que se tenha falado de novo sobre o assunto.
A descoberta recente das Estelas colocadas na eira do forno, levantou novamente o assunto do museu e da utilidade que tinha, como espaço próprio para se exporem em segurança as ditas pedras de elevado valor histórico.
Felizmente temos na terra pessoas habilitadas e com vontade, que se disponibilizaram para arrancar definitivamente com o projeto, pondo de imediato mãos à obra, mas, logo nas primeiras diligências depararam com obstáculos provocados pelo laxismo e indiferença de alguém...
O desanimo é grande quando queremos remar para a frente, elevando o nome de Castelões e sentimos que outros remam no sentido contrário, contribuindo para o isolamento e consequente esquecimento da terra.
Mas a vontade e determinação de alguns é grande e por isso vamos reformular o processo e transformar aquela que outrora foi a Casa do Conhecimento, na futura Casa da Cultura.
Esta é uma das expressões usadas por amigos que por vezes convido a passar o fim de semana em Castelões.
O adjctivo é aplicado quando se referem à forma do velho casario e à relação de proximidade com o gado que vivia na mesma habitação.
É aplicado quando sabem da maneira como se partilhava o forno e certos trabalhos, por várias famílias e em verdadeiro espírito comunitário.
Quando a vista alcança horizontes de dezenas de quilómetros em todos os quadrantes.
Ou quando provam uma talisca de presunto com pão centeio e descobrem a diferença de paladares dos produtos da terra, comparativamente com aqueles que consomem habitualmente, adquiridos nas lojas das grandes superfícies, em que tudo é prematuro e sem sabor.
Quando veem com os seus próprios olhos o tamanho considerável daquele níscaro que o "Nibe" levava, para refogar com o coelho que o esperava em sua casa...
De volta à grande cidade, fica sempre a vontade do regresso ao, outro mundo, o mundo do paraíso transmontano que é Castelões.
O nome de Castelões, identifica-se como lugar de acantonamento e movimentações militares ao longo dos séculos, tendo daí originando a formação do povoado.
São inúmeros os testemunhos.
As pedras gravadas que recentemente foram descobertas nos Forninhos, conhecidas por Estelas, levam-nos à idade do Bronze fnal. (700-300 a.C.) Seriam pedras tumulares e nelas aparecem gravadas as armas dos guerreiros falecidos, como o escudo, a lança ou a espada.
O Outeiro dos Mourosou as Casas, levam-nos às Invasões Romanas da Península Ibérica. (218-201 a.C.) e à expulsão das tropas de Cartago.
O Alto do Facho e o Castelo, transportam-nos para a época Medieval.
Numa parede da Associação está exposto um quadro com o extrato de um texto retirado dos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa, em que se faz referência à existência de tropas em Castelões.
Nele podemos ler Castellãos, provavelmente o nome original e que ainda hoje aparece nas cartas militares, mapas e até no moderníssimo sistema GPS.
Podemos ler também, Condestável, titulo atribuído a D. Nuno Alvares Pereira (1360-1461) e D. João I, Rei de Portugal. (1357-1433)